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9/12/24

Câmbio, inflação e taxa de juros: o que esperar depois do pacote de gastos anunciado pelo governo

Por

Michele Loureiro

O governo federal enviou o pacote de corte de gastos públicos à Câmara dos Deputados e a expectativa da equipe econômica é de que os projetos sejam aprovados até o fim deste ano. Após semanas de negociações, o anúncio realizado prevê a contenção de até R$ 70 bilhões: sendo R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026. Fazem parte das medidas de contenção as revisões no abono salarial, salário mínimo e benefícios de militares.

 

Mas afinal, qual o impacto dessas medidas em frentes como câmbio e comportamento da economia brasileira? Segundo Cristiane Quartaroli, economista e estrategista de câmbio do Ouribank, ainda é cedo para saber se as medidas de corte de gastos serão efetivas e suficientes. “À primeira vista, a visão sobre esse tema ainda está bastante embaçada, porque o projeto ainda pode sofrer mudanças no Congresso. Sendo assim, ainda vivemos um ambiente de incerteza e, por conta disso, há volatilidade e pressão nos nossos ativos”, diz.

 

Ela explica que é esse cenário que faz com que o mercado financeiro reaja mal. Tanto é que, no dia do anúncio, o dólar ultrapassou a barreira dos R$ 6. “Havia uma expectativa de que viessem cortes de gastos efetivos e não foi o que aconteceu”, explica.

 

Além disso, a questão da isenção de imposto de renda para uma determinada faixa salarial, que reduz a arrecadação, também não foi bem vista. “Já era uma promessa de campanha e não foi uma surpresa, mas aqueda no recolhimento de dinheiro em um momento que se fala de cortes não foi bem aceita”, diz a economista.

 

Como fica a taxa de câmbio?

 

Para Cristiane, é difícil prever se a taxa de câmbio vai permanecer nesse patamar alto por muito tempo. É importante frisar que o câmbio já subiu mais de 20% desde o início do ano e não há sinais de melhora. “Hoje o cenário é de bastante aversão ao risco, por conta dessa questão do cenário interno local. Se medidas não forem aprovadas da forma que elas foram anunciadas e se não houver um comprometimento com um arcabouço fiscal, isso tende a gerar uma percepção de risco maior para o país”, avalia.

 

Para ela, a taxa de câmbio pressionada por muito tempo já não é uma novidade, mas agora o nível é maior e isso tende a se desenhar de forma negativa em vários setores da nossa economia. “O primeiro impacto é na inflação. A alta do dólar encarece produtos importados, como combustíveis e eletrônicos, e isso pressiona a inflação. Não é um movimento instantâneo, já que há defasagem, mas pode ser  tendência”, explica.

 

 

Cenário externo também entra na conta

 

Cristiane explica que a piora na percepção de risco do Brasil se dá por conta do aumento da inflação, que fatalmente tende a culminar na alta da taxa de juros. “Esse cenário, somado ao contexto externo, que também tem contribuído para pressionar a taxa de câmbio por conta da expectativa que o mercado tem com o governo de Donald Trump, tende a elevar o custo do dólar”, avalia.

 

Tudo indica que Trump fará um governo mais protecionista, que tende a gerar inflação nos Estados Unidos e pode reverberar no restante do mundo. “A gente tem cenários incertos tanto no aspecto interno, quanto externo, e isso acaba impactando de forma negativa para os mercados emergentes”, afirma.

 

Além disso, empresas que têm dívidas em dólar enfrentam custos maiores. Por outro lado, os exportadores podem acabar se beneficiando no curto prazo. “A questão é até quando isso vai se sustentar sem que os outros países também aumentem os preços. É um cenário bastante desafiador para 2025, uma vez que temos um ambiente ainda incerto na parte fiscal, inflação pressionada, taxas de juros altas e um crescimento econômico que tende a ser menor”, finaliza.

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