Por
Michele Loureiro
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma série de tarifas de importação, que vão de 10% a 50%, sobre produtos que chegam ao mercado americano. O chamado ‘tarifaço’, que tem como pano de fundo o argumento de proteger a indústria local, deve redesenhar a ordem mundial de comércio exterior nos próximos meses. Entre retaliações de grandes economias, como a China, e mudanças na indústria, os novos impostos também devem contribuir para a oscilação cambial e podem beneficiar as empresas brasileiras em certas situações.
Promessa de campanha de Trump, o aumento das alíquotas carrega a lógica de encarecer os produtos vindos de outros países e incentivar os consumidores americanos a comprarem itens fabricados internamente. No total, 126 países passaram a ser cobrados com a taxa mínima de 10% ao vender seus produtos para os Estados Unidos. Enquanto o Brasil foi taxado, em 10% (com exceção de tarifas divulgadas anteriormente, como a do aço e a do alumínio, taxados em 25%), os países asiáticos sofreram impactos maiores.
Vale destacar que nem tudo está definido, as retaliações entre os países parecem não ter fim e com isso a incerteza e volatilidade nos ativos, sobretudo no câmbio, deve continuar.
Por isso, países como a China, um dos maiores parceiros comerciais dos americanos, já anunciaram um rápido contragolpe com o anúncio de uma tarifa de 84% sobre os produtos americanos a partir de 10 de abril. Para Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, os efeitos ainda podem extrapolar a questão entre os dois países.
“Pode acontecer um desvio de comércio, como já ocorreu no primeiro mandato do Trump. Na ocasião, houve uma guerra comercial com a China, que deixou de comprar soja dos Estados Unidos e passou a negociar mais com o Brasil”, diz. Para ela, o desvio de comércio pode acarretar na desaceleração do crescimento global, que já está projetada em 3,1% pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A economista também projeta o impacto em preço de commodities. “Se a China começar a restringir importação de produtos, como soja e petróleo, os preços internacionais podem cair, afetando países exportadores como o Brasil, por exemplo”, diz. Além disso, o mercado financeiro também deu uma resposta direta às ações de Washington logo após o anúncio feito na primeira semana de abril.
Na Europa, as perdas se acentuaram após o anúncio de Pequim sobre a retaliação e os mercados europeus viram suas recuperações anuais evaporarem, com o principal índice de ações da região, o Stoxx Europe 600, perdendo 4,6% em um dia. A tendência é que a pauta do tarifaço ainda seja dominante para a construção dos índices nas próximas semanas.
O argumento de Trump de proteger a indústria local ainda não convenceu totalmente nem mesmo as empresas americanas. Apenas nos três dias de pregão desde o anúncio das tarifas recíprocas, as perdas de Wall Street totalizam US$ 6,2 trilhões. O mercado financeiro dos Estados Unidos perdeu US$ 9,9 trilhões desde que Donald Trump assumiu a presidência do país, no dia 20 de janeiro, segundo a consultoria Elos Ayta.
Para a economista do Ouribank, a aversão ao risco impacta diretamente no câmbio. “Há uma piora de percepção de risco mundial e isso acaba afetando de forma negativa a taxa de câmbio porque fortalece o dólar, que é um ativo mais seguro”, diz. Por isso, as próximas semanas devem ter alta na cotação.
Além disso, o Brasil deve assistir mudanças no cenário de comércio exterior. O país tem a China e os Estados Unidos como principais parceiros comerciais e deve sofrer os efeitos da taxação. “Talvez o impacto seja menor no sentido de crescimento econômico, porque as nossas exportações têm um peso menor no PIB, que deve ser favorecido pela agropecuárianeste ano. O esperado é que não haja um impacto negativo no nosso PIB, mas pode acontecer um reflexo na inflação”, afirma.
A economista fala sobre a oportunidade de comércio em um cenário de desvio global. “Se a China reduzir a compra dos Estados Unidos por conta das tarifas, o país tende a buscar outros fornecedores e o Brasil pode entrar nesse jogo, principalmente se a gente pensar em produtos agropecuários que o Brasil exporta”, diz.
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Cristiane acredita em um eventual fortalecimento da parceria entre o Brasil e China. “Pode ser que isso culmine na valorização das nossas commodities e no acesso a mercados com menos concorrência. As empresas brasileiras podem ocupar um espaço que vai ser deixado de lado pelas empresas americanas, em mercados onde a China coloca alguma restrição”, avalia. “Talvez essa questão das tarifas pode acabar beneficiando o Brasil”, finaliza.
Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.
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