Relátórios de economia
21/7/2022

PIB melhor em 2022, mas e em 2023?

Por

Cristiane Quartaroli

Fernanda Consorte

Boa parte dos analistas econômicos usa os dados de expectativa de mercado calculado pelo Banco Central como guia. Aqui, não somos diferentes. Assim, após uma longa greve dos funcionários da instituição voltamos a enxergar como a mediana do “bando econômico” está pensando. E nota-se que, apesar do pessimismo que ronda os preços dos ativos brasileiros, as expectativas para o crescimento econômico brasileiro têm melhorado – ao menos para este ano. De fato, enquanto até março esperava-se um crescimento pífio de 0,5% do PIB de 2022, agora, a expectativa é de um modesto, mas melhor 1,59%. Para 2023, a história está oposta, conforme gráfico abaixo.

Na nossa visão o que suporta essas estimativas são os números mais recentes de atividade econômica, que têm surpreendido positivamente o mercado. A começar pelo próprio mercado de trabalho, variável defasada, que demora para responder ao ciclo econômico devido às travas burocráticas e à confiança dos agentes para se fazer uma nova contratação. Mas o fato é que a taxa de desemprego baixou para 9,8% ante média de 14% no ano passado e a contratação no mercado formal, segundo os dados do Caged, tem abrilhantado os olhos.

O setor de serviços também tem se destacado. Em maio, por exemplo, o setor alcançou 8,4%acima do nível pré-pandemia (fev/20) e 2,8% abaixo do ponto mais alto da série histórica. E esse desempenho se mostrou generalizado entre os segmentos, por exemplo, o índice de difusão subiu e atingiu 83% (versus 58% em abril), ou seja, dez das doze atividades apresentaram crescimento em maio.

Do lado da indústria, a produção industrial cresceu em maio ante abril, registrando, portanto, o quarto resultado positivo consecutivo, acumulando nesse período alta de 1,8%.  Mas isso não foi suficiente para eliminar o recuo do acumulado do ano (-2,6%). De qualquer forma, em maio, o comportamento foi predominantemente positivo, uma vez que 3 das 4 grandes categorias econômicas e 19 das 26 atividades industriais pesquisadas apontaram crescimento.

Dessa forma, esses dados sustentam a recente revisão para cima de PIB para 2022, guiado pela normalização de serviços pós-pandemia. Mas acreditamos que também é explicado por medidas fiscais transitórias que têm sido anunciadas pelo governo. Os cortes recentes nas alíquotas do ICMS, da Cide e do PIS/Cofins e a PEC dos Benefícios, recém-promulgada, que aumenta o valor de benefícios sociais e econômicos, especialmente do Auxílio Brasil, podem produzir algum efeito positivo sobre o PIB por meio da ampliação da massa de rendimentos disponível (dinheiro na mão!)para o consumo imediato.

E em 2023?

Porém olhando à frente enfrentaremos uma dualidade. Por um lado, como mencionado, as medidas fiscais podem ser um motor importante para fomento da atividade econômica. O problema é a característica de curto prazo de medidas como essa, pois não mexem na estrutura do País, como investimentos.  E mais, política fiscal injeta dinheiro na economia, deixando espaço para inflação – tema aliás em que estamos sendo castigados nos últimos 2 anos. Apenas lembrando, o IPCA de junho em 12 meses está em 11,9%, e por mais que acreditemos que ele deva ceder nos próximos meses respondendo à política monetária (ver nosso relatório Inflação: Cenário mais ameno à frente, publicado em 14/06/2021) ainda assim, deve continuar acima da meta, e agora sendo alimentado por novas medidas fiscais.

Em resumo, o governo ajuda de um lado – gerando renda e crescimento, mas tira depois via inflação, o que obriga o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo, reduzindo, portanto, o crescimento econômico. Assim, embora estejamos observando aumento de expectativas do PIB em 2022, o cenário para 2023 fica cada vez mais comprometido.

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