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Há algumas semanas, soltamos um relatório com nossas projeções, preocupações e aspirações para o cenário macroeconômico brasileiro ao longo deste ano, tentando quantificar qual será o impacto em nossa economia depois de quase três meses com indústrias paralisadas, comércios fechados, restaurantes tendo que se virar com muita imaginação e inovação. Não está sendo fácil para ninguém. Muitas empresas estão precisando se reinventar. O padrão de vida e consumo das famílias mudou com o isolamento. O consumidor acaba ficando mais tempo em casa, reforçando as necessidades de manutenção do lar e de fazer refeições em família. Itens de alimentação, por exemplo, tiveram um crescimento expressivo nos primeiros meses da crise (veja no gráfico abaixo).
Resta saber se essa tendência continuará daqui pra frente ou se as coisas irão voltar aos antigos padrões após algum tempo. Não temos essa resposta. Mas vamos tentar fazer uma análise com base em algumas informações que já temos disponíveis, traçar um panorama para que a gente possa, ao menos, enxergar com um pouco mais de clareza como poderá ser a retomada da economia para alguns setores nos próximos meses. Quais serão os mais beneficiados e quais precisarão de um empurrão adicional para saírem da crise.
Escolhemos um setor de cada bloco para mostrar como está sendo o desempenho ao longo da pandemia e tentar desenhar como será a recuperação quando tudo isso amenizar. Vamos ver?
Como está agora: a quarentena fez as compras on-line aumentarem consideravelmente. Quando comparado ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de 48% no faturamento do e-commerce, segundo os dados da e-bit. Já se comparado ao período anterior ao início da crise, houve um aumento de 14% - um salto bastante significativo (veja nos gráficos abaixo). Um dos fatores que contribuiu para esse movimento foi o aumento no número de consumidores que realizou sua primeira compra on-line.
Como ficará depois: o setor, possivelmente, também se beneficiará no pós-pandemia, tendo em vista que os novos clientes conquistados podem se tornar recorrentes. Além disso, o consumidor que entendeu a importância das medidas de segurança poderá continuar a exigir isso das empresas, mesmo após a quarentena. Portanto, oferecer alternativas que minimizem o contato (compras on-line, nesse caso), será ponto positivo para as empresas que ainda não adotaram essa prática.
Como está agora: de acordo com o levantamento apresentado em relatório do ICTQ (Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade), desde 2018, quando a economia começou a dar sinas de recuperação, o mercado farmacêutico apresentou crescimento anual expressivo de 13% e, até fevereiro deste ano, o comportamento do setor se manteve crescente. Em março, contudo, houve um pico de vendas de 34% (veja gráfico) se comparado ao mesmo mês de 2019, já mostrando os impactos inesperados e positivos da crise no setor. Aumentou a quantidade de pessoas buscando nas farmácias, além de medicamentos, itens de higiene e proteção.
Como ficará depois: é possível que haja um recuo, principalmente, nas vendas do setor, imediatamente após o pico da pandemia, como já foi observado em abril/20. Contudo ele deve continuar fortalecido por alguns motivos: 1. Diversas farmácias já prestam serviço de vacinação. Dessa forma, o consumidor pode imaginar que esse será um ganho adicional nas grandes redes, caso finalmente tenhamos uma vacina contra a Covid-19. 2. Além disso, a procura por testes rápidos deve continuar mesmo após o pico da pandemia, pois ao que tudo indica, o vírus continuará circulando por um grande período de tempo no país. Vide segunda onda de contágio que está acontecendo nos EUA e na China agora no mês de junho. 3. E, por último, a telemedicina, que já é uma realidade, tende a crescer e se consolidar, de acordo com especialistas do setor. Com isso, o farmacêutico clínico poderá se tornar um dos profissionais aptos a solicitar e a acompanhar uma consulta médica remota. Contudo o setor ainda aguarda a legalização dessa prática.
Como está agora: com o fechamento do comércio de rua e de shoppings desde meados de março, esse setor tem sofrido bastante com a pandemia. Em levantamento feito em abril deste ano, pela CNI, o nível de utilização de capacidade instalada do setor, embora não tenha atingido o ponto mais baixo da história (como aconteceu com vários outros setores), mostrou forte desaceleração e indica uma capacidade ociosa muito abaixo da média dos últimos 10 anos. Contudo o indicador mais preocupante desse setor é o nível de emprego, que já mostrava uma redução consistente desde meados de 2015 e se aprofundou ainda mais com a chegada da pandemia (veja nos gráficos abaixo).
Como ficará depois: como os vestuários são considerados produtos não essenciais, a recuperação do setor poderá ser mais lenta, gradual e muito dependente do nível de flexibilização da quarentena que cada cidade terá ao longo dos próximos meses. Ainda que as lojas voltem a abrir, a população pode demorar mais para consumir esse tipo de mercadoria, justamente, por não ser de extrema necessidade imediata. Além disso, vale destacar que a renda da população já diminuiu, segundo os primeiros indicadores divulgados pós-pandemia pelo IBGE. Isso também restringe ainda mais a procura por bens que não são considerados de primeira necessidade.
Como está agora: voos cancelados, hotéis fechados e ruas vazias. Essa foi a combinação mais perversa para quem depende exatamente de fluxo de pessoas. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o setor acumulou perda de R$ 13,4 bilhões em relação à média mensal de faturamento nos dois meses anteriores. A paralisia quase completa do setor nas semanas seguintes agravou esse cenário, acumulando perdas de R$ 36,9 bilhões em abril e de R$ 37,5 bilhões em maio, totalizando um prejuízo de mais de R$ 88 bilhões nesses três meses.
Adicionalmente, vale destacar que o setor de serviços (lembrem-se: turismo é considerado um serviço) teve uma retração de 11,7% em abril frente ao mês de março, de acordo com o último relatório do IBGE, divulgado na semana passada. Como o setor de serviços representa 70% do PIB brasileiro, esse poderá ser um dos principais combustíveis da recessão que vamos enfrentar ao longo deste ano (veja nos gráficos abaixo).
Como ficará depois: esse, meus amigos, será um salve-se quem puder. Provavelmente, deve ter sido o setor que mais sofreu ao longo da pandemia e terá que se readaptar bastante para buscar uma retomada. Mesmo em um cenário de flexibilização da quarentena, o elevado grau de deterioração da conjuntura econômica, com redução do emprego e da renda, principalmente, indica que a recuperação desse setor ainda deverá demorar a acontecer após o fim do período mais crítico da pandemia.
Por fim, é claro que a pandemia deixará sequelas graves para vários setores, mas aqueles que souberem se reinventar, poderão se sobressair lá na frente. E ao Brasil cabe saber aproveitar o bom momento que o agronegócio irá desfrutar para, quem sabe, tentar conter minimamente toda a recessão que virá por conta de setores como o industrial e de serviços.
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