Como o câmbio e os fatores externos impactam no preço dos combustíveis?

Em alguns postos de combustíveis do Brasil o valor do litro da gasolina ultrapassa os R$ 8. Em estabelecimentos de estados do Norte, como o Acre, a bomba chega a marcar R$ 10. Diesel e etanol também estão na fila dos preços mais altos. Afinal, quais motivos explicam essa alta expressiva no valor dos combustíveis?

Há vários fatores que devem ser levados em conta para compreender os décimos a mais nas bombas de combustíveis e, ao contrário do que muita gente pode pensar, boa parte deles está fora do Brasil.

A guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta a disponibilidade e o preço do petróleo, é um dos primeiros fatos a ser compreendido.

O valor do barril de petróleo tem apresentado fortes oscilações desde o início da disputa territorial no leste europeu e já rompeu a marca dos US$ 130. “Os confrontos levaram às sanções da Rússia, que é uma importante fornecedora de petróleo. Com menos oferta e sem previsão do fim da guerra os preços subiram”, explica Cristiane Quartaroli, economista do Ourinbank.

O repique no preço do óleo mais valioso do mundo ainda é acentuado pelo câmbio. Com o dólar acima dos R$ 5, o barril do petróleo ultrapassa os R$ 600.

“O reflexo disso está nas bombas. Além do aumento da matéria-prima, o valor da gasolina conta com variantes, como impostos estaduais, tributos federais, custos do etanol e do biodiesel, taxa de distribuição e revenda e aquisição do combustível”, explica Cristiane.

A guerra apenas acentuou a escalada no preço dos combustíveis, mas pode ser um ingrediente a mais de preocupação para impedir um eventual recuo. O que causa preocupação para a inflação.

Para se ter uma ideia, em 2021, o Brasil chegou a 10,06% de inflação oficial aferida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A gasolina correspondeu a 30% desse total.

Ainda de acordo com o IBGE, o preço do combustível representa cerca de 6% do orçamento das famílias. O impacto do aumento do preço dos combustíveis inclui, também, o frete de vários produtos pelo País, já que o diesel corresponde a 50% do valor do frete.

Na tentativa de frear o avanço dos preços que impactam diretamente no custo do frete, já que a maior parte do transporte logístico brasileiro é feito por caminhões, tramitam no Congresso dois projetos de lei.

O PL 1.472 cria uma conta de estabilização, espécie de colchão para amortecer altas da gasolina e do diesel. Também estabelece critérios para definição de preços. Já o PLP 11 altera as regras de ICMS dos combustíveis. Ambos devem ser votados em breve.

Fenômeno global

Apesar da indignação dos brasileiros, é importante notar que se trata de um fenômeno global. Para se ter uma ideia, vários países estão adotando medidas para frear a escalada do preço dos combustíveis e de componentes energéticos, que afetam em cheio o consumo das famílias.

O governo americano e mais 30 aliados decidiram liberar 60 milhões de barris de reservas estratégicas de petróleo para conter o avanço do preço internacional. Em Portugal, o governo decidiu conceder um desconto de € 0,10 por litro de combustível. Já no Japão, o governo anunciou que vai conceder um subsídio de 3,4 ienes por litro de combustível a distribuidoras toda vez que o preço da gasolina exceder determinado patamar.

“À medida que o conflito entre Rússia e Ucrânia caminhar para uma pacificação os valores do petróleo devem apresentar queda. Porém é impossível prever quando isso vai acontecer. O câmbio, por sua vez, segue como uma variável importante nessa conta e oscilando bastante”, diz Cristiane.‍