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30/3/23

Radar Comex: conheça as ações do governo para fomentar o comércio exterior em 2023

Por

Michele Loureiro

Podcast do Ouribank recebeu Marcela Carvalho, secretária executiva da Camex, como convidada da primeira edição do ano

A primeira edição de 2023 do Radar Comex, podcast do Ouribank sobre conjuntura e comércio exterior, contou com a presença de uma convidada especial. Marcela Carvalho, graduada em Relações Internacionais e mestre em Desenvolvimento e Comércio Internacional, é a atual secretária executiva da Camex (Câmara de Comércio Exterior) e falou sobre as principais iniciativas para aquecer o mercado de exportações neste ano.

Marcela conversou com dois executivos do Ouribank: Welber Barral, consultor de comércio exterior, e Cristiane Quartaroli, a economista do banco. Ambos contextualizaram o momento global. “Estamos passando por um período desafiador, com taxas de juros altas no mundo todo, uma recente luz amarela sobre o sistema financeiro global e a expectativa de baixo crescimento. Isso deixa certa dúvida sobre como o mundo vai se comportar nos próximos meses e como isso pode comprometer o comércio exterior”, disse Cristiane.

A secretária da Camex disse que apesar do contexto, os benefícios do comércio exterior são largamente anunciados e devem permanecer em destaque neste ano. “Temos empresas que exportam de maneira consolidada, com insumo de qualidade, isso traz grandes benefícios, dá acesso às divisas e se reverte em benefício para economia do país. Para se ter uma ideia, de 2019 a 2022, segundo dados do Banco Central do Brasil, a razão entre a corrente de comércio e PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil aumentou de 29%para 39%. Isso mostra que mesmo no período de pandemia, guerra e instabilidade a gente teve um ponto forte de motor no comércio exterior”, afirmou.

Barral aproveitou para questionar como a Camex pretende fazer para que esse movimento de relevância no PIB não perca força, uma vez que nos últimos anos se assistiu a um embate envolvendo vários ministérios e problemas de coordenação no governo. “Temos um mundo diferente de 20 anos atrás, crise em vários países com risco de recessão, os desafios são muitos e a relevância da Camex como articuladora é ainda mais importante”, afirmou.

“De fato, vimos que essa congruência não funcionou no último governo em termos de legitimidade e transparência nas decisões. Acredito que agora temos um cenário administrativo mais favorável. Politicamente, a Camex está com um bom processo de estrutura decisória”, disse Marcela.

Questionada sobre os principais desafios da Camex para este ano, a secretária respondeu que eles passam por pontos como voltar a se debruçar sobre grandes temas de comércio exterior e conseguir colocá-los em prática. “Ainda estamos em um trabalho interno de entendimento e desenho de estratégia, que será apresentado para todos os órgãos que compõem a estrutura do colegiado para definir diretrizes e metas, além de formas para mensurar essas metas. Já fizemos duas reuniões internas e em breve vamos chamar operadores de comércio exterior e sociedade civil para contribuir”, disse.

Marcela antecipou parte dos planos ao Radar Comex. A estratégia principal inclui a reformulação do Sistema Nacional de Garantia de Crédito. “Atualmente, o sistema é dependente do orçamento da união, e isso é fator de insegurança jurídica para quem opera e exporta utilizando esse crédito. Nossa ideia é tornar isso independente do orçamento da união, para que ele seja um fundo alimentado com próprio prêmio do seguro, com aplicação inicial e com sustentabilidade ao longo do tempo”, explicou.

Ela disse ainda que atualmente o resultado operacional do seguro é negativo, pois o que se paga de indenização é menor do que se recebe. “Entendo que é um cenário momentâneo e vamos trabalhar para que isso mude. A ideia é aumentar o acesso do seguro de crédito aos usuários, já que a utilização já chegou a 1% das operações e atualmente não passa de 0,2%.Para isso, queremos trazer operadores e bancos privados para o comércio exterior e fazer financiamento de médio e longo prazo”.

Revisão dos instrumentos de comércio exterior

Outro ponto de trabalho mencionado por Marcela é a racionalização e modernização dos instrumentos de comércio exterior propriamente ditos. “Temos uma burocracia neste momento. Não faz sentido ter equipes de 30 ou 40 pessoas trabalhando para aprovação de um funcionamento específico. Precisamos pensar de novo em grandes temas e queremos propor a reformulação desses instrumentos, enxugar os times burocráticos e levar pessoal para áreas estratégicas”, afirmou.

A secretária aproveitou o podcast para falar sobre a questão ambiental, após fala de Cristiane, que contou que em recente visita à Brasília observou que o assunto estava quente na pauta. “O impacto das legislações ambientais, das regulações em todo mundo, já começou a ser sentido por aqui. Estamos coordenando a preparação do setor produtivo, que com certeza sofrerá consequências no potencial de exportação se não cumprir as normas. Estas legislações podem remodelar o comércio mundial e temos que dar elementos para que nossos exportadores se preparem”.

Ela também pontuou a necessidade de facilitação de investimentos para incentivar o comércio exterior. "Sabemos que não é uma questão diretamente ligada, mas com a chegada de novos investidores a gente consegue aumentar a corrente de comércio do país e ampliar relações", afirmou.

Segundo a convidada, todos esses temas mencionados têm impacto no setor produtivo, apesar de terem pesos diferentes. “A reforma do sistema de crédito sozinha tem um impacto relevante porque além de dar mais segurança para quem exporta, também atrai o interesse dos bancos privados para o universo da exportação. Já temos produtos privados nas remessas, mas são de operações de curto prazo e a ideia é viabilizar a médio e longo prazo”, explicou.

Barral aproveitou para falar sobre a reindustrialização do Brasil, que segundo ele tem duas grandes frentes: a economia verde, pautada por novas legislações ambientais, e a indústria 4.0. “Quando a gente olha tudo isso nota que há muita coisa para ser feita, mas também muitas oportunidades decrescimento”, disse.

Para finalizar, Marcela frisou o momento político favorável, que traz um alinhamento com Mercosul e é um bom indicador. “Além de termos comércio relevante com a região, para pensarmos em qualquer questão estruturante precisamos olhar para essas regras do acordo. Isso é uma sinalização de que novos acordos não estão descartados por ranhuras de comunicação”, disse.

Para ela, notar que existe um alinhamento entre órgãos que compõem a Camex e que todos caminham no mesmo sentido é muito importante. “Um exemplo disso é que recentemente recebemos um documento da Casa Civil reiterando que a reforma de crédito está na lista de assuntos a serem avaliados. Temos confiança nesse início de governo e estamos prontos para ouvir propostas. A Camex é aberta, voltada para a escuta e para tentar resolver e reagir aos problemas, além de pensar estruturalmente nos próximos passos”, finalizou.

Ouça o episódio completo do Radar Comex, clique aqui.

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