Por
Michele Loureiro
“A proliferação de medidas ambientais é inexorável. O tema não vai sair da agenda e o mundo está de olho no Brasil”, a fala é de Rodrigo Lima, sócio e diretor da Agroicone e especialista em negociações internacionais, meio ambiente e desenvolvimento sustentável no setor agropecuário e de energias renováveis.
O executivo participou da nova edição do Radar Comex, que também contou com a presença de Welber Barral, estrategista de Comércio Exterior, e Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank.
As oscilações do câmbio nas últimas semanas deram início à conversa. Segundo Cristiane, a taxa voltou a ficar pressionada principalmente por questões internas, especificamente pela falta de previsibilidade que o mercado tem em relação ao cenário fiscal. “O governo está concentrando as forças em aumentar as receitas quando há uma necessidade grande de reduzir os gastos”, disse.
Segundo Lima, o cenário de incertezas pode desacelerar a agenda de descarbonização. “Toda a agenda de clima depende de investimento, financiamento, de dinheiro para ações de compra de crédito de carbono e preservação de florestas. Estamos discutindo uma Lei de Mercado de Carbono e quando há uma economia em crise é natural que isso freie movimentos necessários para evoluir a descarbonização”, avaliou.
COP29 no Brasil: todos os olhos voltados para o país
Um dos grandes temas da agenda climática global deste ano é a realização da COP29 no Brasil. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas será realizada no país em novembro e o evento pode ser uma oportunidade para o Brasil apresentar uma cesta de soluções climáticas e atrair olhares de investidores globais.
“O financiamento para ações climáticas é fundamental e exige uma abordagem inovadora, com investimento privado e internacional. No entanto, há preocupações sobre o que o país vai apresentar”, disse Lima.
Barral, por sua vez, explicou que a COP29 é o momento onde há a divulgação da meta coletiva e quantificada de financiamento para o período de 2031 a 2035. “É quando saberemos o novo tamanho do cofre que puxará a agenda climática nos próximos anos e as fontes de recursos disso”.
Para Lima, o cenário geopolítico atual, com as guerras e toda a questão energética evidente na Europa, devem frear ações que estimulem a transição energética, que é a principal fonte do problema do aquecimento global. “Essas incertezas geram aumentos nas taxas de juros e isso impacta as ações climáticas. É um ciclo”, afirmou.
A expectativa é que o Brasil apresente mecanismos para atrair investimentos e garantir que o financiamento seja direcionado para projetos que realmente contribuam para a redução de emissões. No entanto, as discussões sobre a Lei do Mercado de Carbono ainda estão em andamento. “O país precisa se preparar para as exigências internacionais em relação a metas de desmatamento”, explicou Lima.
Para ele, é necessário ter mecanismos robustos para provar que o desmatamento ilegal foi erradicado e evitar medidas protecionistas de outros países. Entre os desafios estão o Cadastro Ambiental Rural (CAR), com processos morosos de validação, e a elaboração de uma legislação mais detalhada para incluir medidas para evitar a devastação das florestas.
Protecionismo na agenda climática
Durante o podcast, os convidados também discutiram o protecionismo na agenda climática, com países como a União Europeia e o Reino Unido implementando medidas como taxas de carbono sobre produtos importados.
A implementação do CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism) da União Europeia e medidas semelhantes em outros países podem impactar o comércio brasileiro. “O fato é que o Brasil precisa se preparar para essas medidas protecionistas e encontrar alternativas para evitar restrições ao comércio”, disse Barral.
Para garantir bons resultados nesta frente, Lima defendeu que é preciso definir com agilidade o formato da lei, os setores regulados e o preço do carbono. A legislação precisa ser robusta e aprofundada para estimular a redução de emissões e a geração de créditos de carbono. Além disso, o Brasil precisa integrar seu mercado no contexto internacional para gerar demanda por créditos de carbono. “Esta é uma agenda de desenvolvimento, é uma agenda econômica e urgente para o país”, completou.
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