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A inflação já esteve no seu auge. Não está mais, ficou démodé! E não estamos falando de assunto da moda, hashtags em destaque, twitters bombando ou capa de revista importante que o dono banca fica feliz de deixar muito bem exposta aos domingos pela manhã. Estou falando de evolução nos preços mesmo, pois parece que eles começaram a ceder – pelo menos é o que os indicadores mais recentes têm nos mostrado, embora nossos bolsos ainda custem um pouco a acreditar. Mas já enfrentamos piores momentos, podem acreditar!
Antes de mais nada, todo mundos e lembra da disparada nos preços que tivemos logo no início da pandemia. Inclusive, esse foi o motivo que fez o Banco Central do Brasil tomar a iniciativa de começar o aperto monetário (vulgo aumento na taxa básica de juros, a Selic) muito antes de qualquer outro banco central. Começamos com uma pressão nos preços dos alimentos (2020), por conta do aumento na demanda e também em decorrência da forte alta do dólar, que também provocou uma forte alta nos preços administrados (2021) e, depois que a pandemia amenizou um pouco, vieram os aumentos nos preços dos serviços (2022), também com a volta de uma demanda reprimida. Ou seja, tivemos uma elevação generalizada nos preços ao longo de uns bons três anos. Veja no gráfico abaixo.
Além disso, se olharmos do ponto de vista das projeções, também já presenciamos momentos mais difíceis. Veja, você, caro leitor, em meados do ano passado a pesquisa Focus do Banco Central sinalizava que o IPCA encerraria aquele ano com uma inflação de mais de8%, quando na verdade fechamos o ano com um número mais próximo de 6%. Para este ano, embora as projeções tenham aumentando desde o início do segundo semestre do ano passado, voltaram a ceder nas divulgações mais recentes. Hoje, o mercado espera que o IPCA encerre 2023 com uma projeção mais próxima de 5,5%.Bem, se em 2021 a inflação ficou acima dos 10%, nos parece que estamos em um cenário de melhora, ainda que de forma lenta e gradual. Mas o que fez o mercado revisar as projeções mais recentes? Quais foram as surpresas positivas? Será que esse comportamento deverá ser tendência para os próximos meses? Para entendermos melhor esses pontos, vamos explicar na sequência alguns dos motivos que acreditamos terem sido mais relevantes para a descompressão mais recente nos indicadores de inflação:
O câmbio! Aquele que um dia foi vilão, hoje pode ser o mocinho da história. Isso porque desde o início deste ano o câmbio já se valorizou 4% e, não temos como negar, vivemos em uma economia muito dependente de produtos importados. Assim, da mesma forma que o câmbio foi responsável pela pressão nos preços lá no início da pandemia, também contribuiu para a desaceleração mais recente, sobretudo nos preços no atacado (veja no gráfico abaixo).Resta saber ser esse movimento irá continuar, pois nos últimos dias temos visto uma pressão adicional na nossa taxa de câmbio por conta de incertezas relacionadas ao cenário externo. Mas, ainda assim, pode ser que a gente ainda veja um impacto adicional da queda do câmbio que comentamos lá em cima nos preços ao consumidor, pois existe uma defasagem. Embora os preços no atacado já tenham sentido de forma mais intensa essa queda, uma hora isso poderá ser sentido também na inflação ao consumidor.
A queda nos preços das commodities. O Brasil é um país emergente exportador de matérias-primas, mas também importamos uma gama importante desses produtos, ou seja, qualquer oscilação nos preços internacionais das commodities impacta (talvez não diretamente)nos preços dos produtos ao consumidor no mercado interno. Vimos esse movimento recente com os preços dos combustíveis. Desde meados de junho do ano passado, temos observado uma redução nos preços do petróleo, o que contribuiu para que a Petrobras tivesse margem para reduzir os preços dos combustíveis no mercado interno. Lembrando que os combustíveis têm um peso importante no IPCA (mais de5% do total do índice), ou seja, qualquer oscilação nesses preços, o impacto no IPCA é bastante significativo. Além disso, outras commodities também podem ter impacto relevante sobre os índices de preços internos, por exemplo: se o preço da commodity trigo cai no mercado internacional (e nós somos importadores de trigo), essa queda terá impacto no preço do pãozinho vendido na padaria – claro que o impacto não é imediato, mas em algum momento acontecerá. Falamos lá em cima – parece que ainda não estamos sentindo no nosso bolso, mas uma hora essa conta vai chegar! Veja no gráfico abaixo a evolução do IC-br, que é um índice de commodities composto elaborado pelo Banco Central junto do comportamento do IPCA acumulado nos últimos 12 meses. São indicadores que andam praticamente juntos. Então, se tivermos uma nova rodada de redução nos preços das commodities, poderemos ver uma melhora mais expressiva em nossos indicadores de preços também.
Por fim, e não menos importante, temos o impacto da taxa de juros na inflação. A intenção do Banco Central ao elevar os juros é controlar a inflação. De que forma? Resumidamente, juros mais altos tendem a reduzir a demanda (consumo) e com isso os preços tendem a ceder. Parte da alta da Selic iniciada em fevereiro de 2021 começou a ser sentida nos preços apenas em meados do ano passado (veja no gráfico abaixo). Mas, ainda assim, não foi suficiente para levar as projeções de inflação para próximo da meta (que hoje está em 3,25% para o final deste ano). Com isso, o Banco Central segue mantendo a Selic elevada para que as projeções de inflação ao menos se aproximem de um nível mais próximo do que seria “ideal” para o comportamento da inflação. Note no mesmo gráfico que as projeções de mercado mostram que o Banco Central deverá começar a reduzir a Selic apenas quando a inflação começar a ter uma desaceleração mais consistente, a partir do 3º trimestre deste ano.
Mas claro que nem tudo são flores e, “gato escaldado” que somos vamos ter sempre um (ou os dois) pé atrás quando o assunto é inflação. Dessa forma, também entendemos que existem alguns riscos para o outro lado, ou seja, não faltam motivos para que esse comportamento benigno da inflação se reverta e volte a subir, entre os quais destacamos: uma reviravolta no cenário internacional, compossíveis problemas bancários e de dívida nos EUA, que podem provocar uma nova alta do dólar – e isso tende a ser negativo para nosso cenário de inflação. Internamente, se tivermos uma condução mal feita de nossa política fiscal, leia-se arcabouço fiscal, com mais gastança do que receitas à vista também teremos mais problemas inflacionários no futuro.
Então, prezados leitores, em nossa visão o pior já passou. A partir de agora, os indicadores de inflação devem continuar colhendo os frutos do duro, porém necessário, período de aumento nos juros e, quem sabe, se beneficiarem mais adiante de uma queda mais expressiva na nossa taxa de câmbio, mas isso é assunto para outro Especial!
Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.
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