Relátórios de economia
21/8/2024

O que mudou em um mês

Por

Cristiane Quartaroli

Quando pensamos em cenário macroeconômico, costumamos olhar para inúmeras variáveis (ver figura 1) e todas são interligadas e dependentes umas das outras. Algumas têm maior relevância (ou peso – como gostam de falar os economistas), outras menos, mas não podemos deixar de levarem consideração nenhuma delas. A evolução da taxa de câmbio, por exemplo, que é um dos nossos assuntos preferidos, depende de muitas variáveis, dentre as quais destacamos as questões econômicas locais e externas, as decisões políticas e os fatores aleatórios e imprevisíveis que estão sempre prontos para darem as caras!

No relatório de julho detalhamos os pontos positivos e negativos que poderiam fazer nossa taxa de câmbio oscilar para um patamar menor ou maior. Pouco mais de um mês depois, os números e o intervalo dessa dúvida parecem que não mudaram tanto. Algumas variáveis que apareceram ao longo do caminho trouxeram mais dúvidas, enquanto outras limparam um pouco a visão embaçada do passado. Dito isso, o que esperar para os próximos meses?

Começando pelas questões econômicas externas, destacaremos três pontos principais:

1. estamos vivendo um cenário atual de desaceleração da inflação mundial que tem permitido uma postura menos contracionista da política monetária em diversos países (ver gráfico 1). Esse movimento já havia sido visível em economias emergentes desde o ano passado e, agora, também nas economias avançadas. Um exemplo mais recente é a Zona do Euro, que iniciou seu ciclo de cortes de juros.

2. A inflação americana cedeu e já se encontra em patamar próximo da meta (2,0%) – isso, somado ao fato de que a atividade econômica dos EUA vem reduzindo gradualmente (ainda longe de um cenário de recessão, como foi alertado recentemente), permitirá que o FED (Banco Central Americano) siga o mesmo caminho da Europa e inicie o ciclo de corte dos juros a partir de setembro (ver gráfico 2).

3. Por fim, e não menos importante, temos a China que é nosso grande e relevante parceiro comercial. Embora os dados de nível de atividade econômica ainda sejam incerto se mostrem que o crescimento chinês poderá ser ligeiramente mais fraco ao final deste ano; o comercio exterior parece estar se recuperando de forma mais significativa. Após um longo período, a corrente de comércio chinesa está voltando ao terreno positivo (ver gráfico 3) e isso tende a ser bom para o Brasil e demais economias emergentes.

Partindo agora para as questões econômicas internas. Podemos dizer que temos bons fundamentos. A Selic hoje está em nível mais baixo do que estava há 1-2 anos atrás (o próximo movimento do BC foi colocado em xeque, é verdade, mas ainda assim o quadro é mais favorável); a inflação cedeu bastante também ao longo do último ano (ver gráfico 4) e a atividade econômica tem surpreendido positivamente desde o início do ano. Temos pontos fracos? Sim, temos. E é o que pode “jogar por água abaixo” toda a melhora observada recentemente.

Estamos falando sobre o futuro das contas fiscais brasileiras. Há dúvidas em relação à capacidade do governo de alcançaras metas fiscais. Temos um governo com perfil fiscal expansionista (gastão que fala?!) e não estamos observando nenhuma medida efetiva que possa reverter essa situação. Muito pelo contrário, para fechar a conta, ou seja, zerar o déficit fiscal, as medidas que surgiram até agora só visam o aumento de arrecadação e não corte das despesas. Talvez apenas isso não seja suficiente. O mercado não acredita nisso (ver gráfico 5). Lembrando que ainda teremos eleições municipais neste ano, oque pode dificultar as discussões sobre corte de gastos no Congresso.

Conclusão: pois bem, dito tudo isso, a conclusão que chegamos é sempre a mesma. Muito cedo para avaliar qual será o patamar do câmbio no final deste ano. Diríamos até que é praticamente impossível chegar a alguma conclusão mais precisa. Mas seguimos acreditando em um viés mais otimista, pensando que os bons fundamentos externos e internos serão sobressalentes aos pontos e vírgulas que devem acontecer ao longo desse trajeto. As variáveis do copo meio cheio parecem estar balanceadas com as variáveis do copo meio vazio, tudo junto e misturado. Um mês depois, ainda preferimos contar com sorte de um cenário mais tranquilo.

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Um resumo dos principais acontecimentos de cada dia que podem influenciar na taxa de câmbio, tudo isso em menos de 1 minuto.

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