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Michele Loureiro
O resultado das eleições nos Estados Unidos foi pautado em duas questões centrais: a discordância com as políticas de imigração e a promessa de aumento da taxação dos produtos importados para estimular a economia local.
Para os especialistas, há ainda um outro ponto que pesou para a escolha dos eleitores americanos e ele passa pelo aumento da inflação observado no último governo, que culminou no aumento de preços para a população, e foi decisivo para a acreditação nas propostas de Donald Trump, ao passo que Kamala Harris não conseguiu se dissociar do colega democrata Joe Biden.
Mas afinal, como o resultado da eleição impacta na economia global e quais são os respingos no Brasil? Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o primeiro ponto a ser observado é o fim da incerteza sobre o resultado, que deixou os mercados em polvorosa nas últimas semanas.
“Isso deve dar uma certa previsibilidade no curto prazo. Por outro lado, o resultado inaugura uma série de outras dúvidas. Trump fez uma campanha bastante focada na defesa de impostos, regulamentação agressiva, uma postura bem dura com relação à imigração e com a questão da imposição das tarifas comerciais. Resta saber o que será efetivado e quanto tempo levará”, diz.
Segundo ela, se esse aumento de tarifas entre países for real, principalmente para produtos chineses, haverá um impacto significativo para o restante do mundo e isso tende a gerar inflação. Durante a campanha, Trump propôs uma tarifa de 10% a 20% sobre todos os produtos importados — um aumento em relação à média atual de 2% ou, em muitos casos, zero.
Para as importações da China, o republicano propôs uma tarifa ainda maior de pelo menos 60%. “Ainda que ele não cumpra 100%dessas promessas, é uma política que tende a levar a valorização do dólar, umainflação mais alta e maiores taxas de juros visando o crescimento nos EstadosUnidos”, avalia a economista.
O Brasil exporta peças e partes de maquinário,que poderiam ser afetadas com a nova política. Na parte de commodities, o paísexporta pouco para os americanos, a não ser suco de laranja, e também éconcorrente em soja e milho.
A tendência é que haja um combo positivo parafluxo de capital rumo aos Estados Unidos, o que fortalece o dólar e tende aenfraquecer o real. “Ainda que a vitória dele não tenha sido inesperada, dadoque as pesquisas apontavam para isso, a surpresa foi por ele ter vencido emtodos os estados que eram tidos como neutros, o que sinaliza que ele deve terum mandato popular mais amplo, e maioria na Câmara”, diz.
O consenso entre os economistas e analistaspolíticos é que Trump deve adotar uma agenda protecionista, voltada para amelhora do ambiente de negócios dos Estados Unidos. A força com que orepublicano saiu das urnas aumentou as preocupações de que ele cumpra naíntegra suas promessas de campanha. “Essa combinação pode ser ruim para o Brasil, tanto no curto quanto nomédio prazo. De imediato, talvez a gente sinta uma depreciação adicional doReal nos preços e nos juros. Como a inflação já está partindo de um patamaralto, o Banco Central dificilmente vai acomodar essa pressão adicional nospreços sem precisar apertar ainda mais a política monetária”, destaca aeconomista.
Por isso, ela acredita que o Banco Centraltenha de manter a taxa básica de juros elevada por mais tempo ou até subir maisos juros por aqui. “Isso implicará em um crescimento menor e mais dificuldadeaqui no Brasil para equilibrar as contas públicas”, diz.
Importante destacar que essas questões quetambém são impactadas pela política nacional e o perfil do governo federal.Assuntos como a gestão da dívida externa e discussões sobre o arcabouço fiscaltambém seguem na pauta.
Além de impactar a economia global, a vitória de Trump deve afetar as relações internacionais com importantes atores nocenário global, incluindo o Brasil.
O presidente eleito ainda está montando suaequipe de governo, mas nomes como o do empresário Elon Musk despontam comocertos e podem colocar lenha na fogueira nos próximos meses. Com umapersonalidade tão forte como a de Trump, Musk já se envolveu em inúmeraspolêmicas com a rede social X e fez ameaças a vários países que tentam regularseu conteúdo.
Além disso, a questão climática é outro fatorde atenção. Trump é assumidamente desfavorável às medidas de contenção para oavanço do aquecimento global e pode atrasar as iniciativas de proteção ao meioambiente.
O fato é que nos próximos meses, asespeculações ainda serão maiores que as ações, mas o próximo ano com certezaterá reações -- negativas ou não -- ao novo presidente americano.
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