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Relátórios de economia
25/3/2019

Esquerda? Direita? Sofro de pragmatismo... Ou será centrismo?

Por

Fernanda Consorte

Este texto (ou  desabafo) trata-se de uma opinião 100% pessoal. Peço, então, de antemão  desculpas aos jovens de ideias apaixonadas: eu sofro de pragmatismo. Talvez deva levar isso à terapia, mas como sou paga para dar minha opinião — aposto  que há leitores com inveja agora, mas não há razão para isso; há mais reveses  do que louros —, acaba que sempre o pragmatismo fala mais alto e não consigo me conter.  Neste ano, minha escolha de férias foi um país riquíssimo em cultura, mas pobre em economia. Aos olhos de turistas ilhados em bons hotéis, sobressaem a  beleza histórica e cultural, o gosto dos temperos maravilhosos e a simpatia  indescritível dos habitantes, no que concordo e com os quais fiquei  maravilhada. Contudo, voltei pensativa sobre que não gostaria de vivenciar em meu país: baixos recursos econômicos e miopia de condições intelectuais em  parte da sociedade. Concomitante à minha viagem (destino que recomendo, por  sinal), a revista The Economist divulgou um artigo sobre um novo tipo de  doutrina esquerdista que está surgindo, mas que está longe de ser uma resposta para os problemas do capitalismo: O socialismo dos millenials (ou em  inglês: The resurgente left: Millennial socialismo).   Há quem diga que o capitalismo ocidental deu errado, e o pensamento  socialista avança nesse hiato. O próprio artigo diz sabiamente que “enquanto  os políticos de direita desistem da batalha das ideias e recuam em direção ao  chauvinismo e à nostalgia (ah! O extremismo chato!), a esquerda se concentra  na desigualdade, no meio ambiente e em como investir os cidadãos de poder, e  não as elites.” (ah! Ingenuidade! ) Quanto a este último, como sempre um  discurso lindo, mas deixam de lado o dia a dia de orçamentos, empresas, e,  claro, a ganância intrínseca do ser humano — a distribuição de recursos é  bem-vinda, desde que não seja o nosso recurso, conquistado de forma honesta e  suada, não é mesmo?    Por um lado, parte da esquerda prega que expansões de serviços  governamentais podem ser pagas por impostos mais altos sobre os ricos. Quando  na realidade, à medida que a população envelhece, é difícil manter os  serviços sem aumentar os impostos sobre a classe média — uma questão de  matemática mesmo. No caso brasileiro, os contrarreforma da Previdência não  percebem que em poucos anos o dinheiro vai acabar, assim como já os poucos  recursos públicos existentes para programas socias (dos quais, em boa parte,  sou a favor) simplesmente acabarão; e digo mais: os jovens apaixonados não  conseguirão se aposentar porque não haverá dinheiro. Aceitem.    E se, em vez da redistribuição, os gastos públicos fossem destinados à  educação de base e aumentasse a concorrência? Citando novamente a revista  britânica: “Os socialistas millenials, como o socialismo antigo, sofrem de  uma fé na incorruptibilidade da ação coletiva e de uma suspeita injustificada  do poder individual”.    Por outro lado, essa direta que vem ganhando espaço em países importantes e  em uma parte do nosso governo, tampouco brilha aos meus olhos. A depender de  cada caso, o nacionalismo e o racismo xenofóbico prevalecem; em outros casos,  o fundamentalismo religioso, ou o ódio pela diversidade, assim como a  presença policial e militar bruta como única resposta aos problemas sociais e  ao crime.   Não, não acho que os professores deveriam lecionar com armas na cintura! E  se usássemos esses investimentos e tempo para construção de uma sociedade  mais educada, política e socialmente, considerando o respeito como principal pilar? E aqui, vale citar o gênio e meu autor favorito, Mario Vargas Llosa,  que diz que “...podemos vir a ter sociedades aparentemente democráticas e  livres, que na realidade serão sociedades de zumbis”, num contexto de  empobrecimento do debate e do desprestígio da política no mundo.    Dito isso, temos que ser realistas e pragmáticos diante do atual cenário  brasileiro. Há ajustes a serem feitos que vão doer para a sociedade. A  reforma da Previdência tem que ser feita, o governo anterior criou uma confusão nos gastos públicos maior que os supostos benefícios criados, e,  portanto, como as contas públicas são um reflexo de nossa sociedade, será  esta sim a pagar por esse ajuste. Isso não é uma visão de direita, apenas uma  visão mais coesa.   Contudo, o cenário não precisa de um extremo, seja de direita com seu ar  pudico, seja de esquerda com sua ingenuidade. Acredito que o ajuste  necessário passa pelo caminho de abertura e diversidade, se molda às  necessidades contemporâneas (há os que esquecem que vivemos em um Estado  laico no ano de 2019!). Há sim um alinhamento entre proteção social e  prudência fiscal, há um respeito pelo mercado, mas ouve-se a voz da sociedade  — um reflete no outro. Não cabe falar o que um professor faz em sala de aula,  e sim deixá-lo com condições de preparar bem os seus alunos. O ajuste  reconhece a necessidade de reduzir as desigualdades, mas de forma eficiente,  e isso sugere arrumar as contas, ver o que está errado. Sejamos pragmáticos:  salve o centro, o meio-termo, a ponderação!

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