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Entra ano, sai ano e a pergunta que mais recebemos aqui é: o que será da economia brasileira e, principalmente, quanto estará o câmbio no novo ano? Para responder a essa pergunta, contudo, precisamos fazer um balanço do ano que estamos deixando para trás, avaliar os pontos em que avançamos, aqueles em que precisamos melhorar e excluir o que não nos serve mais e poderá nos atrapalhar. Tal qual fazemos todo ano com nossa própria vida, né? Porque no final do dia é exatamente isso, a economia imita a vida, que imita a economia. Então, chegou o momento daquela grande avaliação!
Assim como acontece no nosso dia a dia, em que não conseguimos viver sozinhos, dependemos de toda uma comunidade para que a vida siga em frente da forma mais harmônica possível, na economia não é diferente. O Brasil não anda sozinho, temos uma economia globalizada e somos dependentes de nossos parceiros. Dessa forma, é claro que a condição de saúde de outros países também interfere (e muito) em nosso desenvolvimento. Por conta disso, antes de avaliar mais de perto o Brasil, vamos falar um pouquinho de como está o restante do mundo e o quanto isso tende a interferir em nossa economia.
A principal questão atual das economias chamadas de “centrais” (e aqui estamos falando de EUA e Europa, principalmente), diz respeito aos juros e seu patamar historicamente elevado. Tanto os EUA quanto a Europa viveram ao longo de 2023 uma política monetária contracionista, ou seja, uma forte elevação em suas taxas de juros como nunca havia sido vista antes na história. Isso porque a inflação também aumentou muito nesses países (veja gráfico 1). E, claro, que isso impactou de forma negativa nas demais economias do mundo, principalmente, nas emergentes, que dependem - e muito - do comércio internacional com esses países. A notícia boa é que, embora o remédio tenha sido bastante ruim e doloroso, com impacto severo sobre o crescimento desses países, o efeito desejado e positivo também aconteceu. Mais recentemente, a inflação desses países começou a ceder e já se enxerga uma luz no fim do túnel sinalizando que a contração da política monetária chegou ao fim. Inclusive, já se fala em afrouxamento dos juros nos EUA ao longo de 2024 – ponto positivo para 2024!
Além de EUA e Europa não podemos deixar de mencionar a China, nosso grande e principal parceiro comercial e que – também – deu um pouco de trabalho ao longo de 2023. A política de Covid-zero adotada pelos chineses foi cruel com a economia do país, que deve crescer “apenas” 5,0% nesse ano, de acordo com as estimativas do FMI (lembrando que a China costumava ter um crescimento médio próximo de 9% até antes da pandemia). Adicionalmente, a corrente de comércio chinesa sofreu com a tal política restritiva e caiu mais de 10% nesse ano (veja o gráfico 2), o que impactou negativamente em algumas das economias emergentes. Contudo, parece que a tendência para a economia chinesa em 2024 também é de melhora. Alguns dados divulgados mais recentemente, como o indicador da produção industrial, por exemplo, sinalizam alguma recuperação. Além disso, sem sinais de novos períodos de restrição por lá, isso também tende a ser mais um ponto positivo para 2024!
Mas e o Brasil nesse cenário todo, como fica? Tivemos um ano “arrastado” politicamente falando. Com muitas pautas acontecendo no Congresso, algumas questões aprovadas, outras ainda a serem definidas e a grande maioria delas direcionadas para melhorar a arrecadação do País nos próximos anos para que o governo consiga finalmente zerar o déficit fiscal – que foi um dos assuntos mais falados aqui no Brasil ao longo desse ano. A expectativa é grande com essa pauta e, embora pareça que estamos tendo uma evolução longa e demorada, ainda assim, há sinais de avanço. Tivemos as aprovações de ao menos alguma parcela da reforma tributária e da MP das offshores; tudo ainda muito embrionário, o que não vai permitir que o País zere o déficit já em 2024, como esperava o governo, mas vai ajudar a melhorar esses números. Ponto positivo para 2024.
Apesar do quadro político bom, pero no mucho, a economia até que evoluiu bem ao longo de 2023. Se olharmos o cenário apenas do ponto de vista das projeções, todo mundo errou – o que já é comum aliás. Mas a parte boa é que o erro foi para melhor. Veja na tabela1 qual era a expectativa para algumas das variáveis macroeconômicas no início desse ano e como elas evoluíram até agora. O crescimento foi melhor do que o esperado, a inflação cedeu mais, a cotação do câmbio deve fechar o ano abaixo das projeções, o saldo da balança comercial superou positivamente e nossa taxa de juros também vai fechar 2023 muito abaixo do que a grande maioria dos analistas projetava lá no início de janeiro. Ponto positivo para 2023 também. Quem nos acompanha há mais tempo, sabe que estávamos um pouquinho mais otimistas com esse ano que está chegando ao fim.
Mas nem tudo foi um mar de rosas. Alguns setores continuam sofrendo no Brasil. Nossa taxa de juros caiu, é verdade, mas ainda assim está em um nível elevado com consequente restrição ao crédito e baixo índice de investimento das empresas. Com isso, a indústria é um dos setores que continua sofrendo – há anos não vemos um crescimento mais robusto da nossa indústria. Exceto o ajuste pontual observado logo após a pandemia, a indústria registra crescimento nulo há muito tempo (ver gráfico 3). Por isso, as chamadas reformas estruturais são tão importantes para nosso país e tendem a contribuir para melhorar nossa capacidade produtiva, aumentando investimentos e empregos. A lição de casa começou a ser feita, com parcelas da reforma tributária já aprovadas. Mas ainda há muito a evoluir. Ponto não tão positivo para 2023 e ainda uma super dúvida para 2024.
Outro setor que por enquanto é de interrogação é o externo. Embora nossa balança comercial tenha registrado recordes ao longo de todo o ano, esse comportamento deve-se muito à redução observada em nossas importações. O que significa que nossos parceiros (falamos deles lá no começo desse relatório) compraram menos produtos do Brasil ao longo de 2023. Justamente por conta da desaceleração econômica que esses países enfrentaram ao longo do ano e dos avanços da inflação e dos juros. É esperada uma melhora para esses indicadores ao longo de 2024, justamente, por conta do ponto, que também citamos anteriormente, sobre a expectativa de redução nos juros dessas economias centrais.
Sendo assim, a tendência é de que haja uma melhora mais qualitativa do nosso setor externo ao longo de 2024, com aumento esperado para as importações. Nos resta saber se essa possível melhora qualitativa terá efeito positivo também para o câmbio ou não, já que a balança comercial forte em 2023 parece não ter sido suficiente para valorizar nossa taxa de câmbio (ver o gráfico 4). Se isso de fato acontecer, o impacto tende a ser positivo também para nossa taxa de câmbio. Ponto ainda duvidoso para 2024!
Por fim, a conclusão que chegamos é de que o balanço para 2024 é positivo. Se voltarmos ao início do texto e contarmos a quantidade de “pontos positivos” e de “pontos negativos”, parece que estamos novamente otimistas com o futuro que nos aguarda. Embora os desafios ainda sejam enormes, tanto do ponto de vista da economia internacional, quanto do ponto de vista da economia (e da política) local, a percepção que fica é de que as projeções do mercado estão mais pessimistas do que gostaríamos que estivessem. Na tabela2 colocamos como estão as projeções de mercado hoje e qual a tendência esperada pela nossa equipe para 2024. Com muito trabalho e um pouco de sorte, esperamos ter um 2024 melhor que 2023. Adeus ano velho, feliz ano novo!
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