Relátórios de economia
19/9/2024

Confiar, desconfiando

Por

Cristiane Quartaroli

Ano após ano, voltamos a discutir sobre confiança, pois acreditamos que ela é um dos indicadores mais importantes da economia de um país. A confiança e as expectativas dos empresários e da população refletem o nível de otimismo ou pessimismo, apontando tendências de consumo e investimento – dois fatores fundamentais para impulsionar a atividade econômica e o mercado de trabalho. Quando estão otimistas, os empresários tendem a fazer investimentos e os consumidores ficam mais propensos a comprar. Os aumentos dos investimentos e do consumo alimentam o crescimento econômico e a criação de empregos. Em tempos de pessimismo, os investimentos e o consumo diminuem, desacelerando a atividade econômica. O contrário também é verdadeiro. Mas em que pé estamos atualmente, quando o assunto é confiança?

                                 
Não que estejamos em um cenário perfeito e sem problemas, pois ainda há muitas questões a serem endereçadas no Brasil (alô fiscal!!) e estamos em ano eleitoral – aqui e nos EUA – o que traz um fator de incerteza adicional, além de muita emoção (e coloca emoção nisso). Mas o fato é que os indicadores de confiança divulgados recentemente sinalizaram recuperação significativa, tanto quando analisados pela ótica dos empresários, quanto pelas lentes do consumidor (ver gráfico). O que não deixa de ser uma boa notícia. As reduções da inflação e dos juros tiveram papel fundamental na melhora da percepção por parte dos consumidores; já do lado do empresariado, a queda da inflação também ajuda, mas o avanço – ainda que tímido - de algumas reformas estruturais contribuiu para a evolução desses indicadores.

                                                   
Vale destacar que, de acordo com pesquisada empresa Ipsos – que acompanha mensalmente a atitude dos consumidores em 29 países – o Brasil é hoje o oitavo país onde o nível de confiança do consumidor esteve mais elevado no mês de agosto (ver gráfico), ficando abaixo da posição que ocupava nesta mesma época do ano passado (2º colocado), mas ainda assim, em um posicionamento muito bom. O resultado do Brasil também está acima da média dos 29 países considerados na pesquisa. A saber: essa pesquisa tem uma abrangência significativa, pois conta com a participação de mais de 21 mil pessoas, de 29 mercados (países). Ela é realizada na plataforma de pesquisa on-line Global Advisor da Ipsos e divulgada mensalmente pela Refinitiv como o Índice de Sentimento do Consumidor Primário (PCSI).

Adicionalmente, os indicadores de confiança da Zona do Euro e dos EUA continuam em níveis abaixo daqueles observados antes da pandemia (ver gráfico). São economias importantes e que ainda estão sofrendo com o nível de juros mais elevado para os padrões históricos. Embora ambos tenham iniciado o ciclo de corte dos juros e a inflação esteja cedendo nesses países, parece ainda ser pouco suficiente para refletir de forma positiva nos indicadores de confiança. Espera-se que corte de juros feito pelo FED (Banco Central Americano) na reunião de setembro tenha impacto positivo nos indicadores de confiança que serão divulgados nos próximos meses.

Devemos estar atentos ao fato de que uma melhora na confiança de um país pode influenciar diversas variáveis, como o risco-país e até mesmo a taxa de câmbio (e vice-versa!). Ao observar o gráfico, nota-se que a confiança e o risco-país se comportam como imãs com polaridades opostas – quando a confiança está baixa o risco-país aumenta, e o inverso também ocorre. Vale lembrar que o risco-país é um indicador que reflete o grau de confiança do mercado na economia e na capacidade de pagamento de uma nação. Assim, à medida que a confiança dos empresários e dos consumidores melhora, o risco-país tende a diminuir, o que pode ter um impacto positivo tanto na taxa de câmbio quanto na percepção geral do país. Desde o início deste ano, o risco vem mostrando piora mesmo em um ambiente de nível de confiança mais elevado. A falta de previsibilidade com a questão fiscal é um dos principais motivos para isso. Será que essa é a tendência para os próximos meses ou a melhora na confiança vai ser suficiente para impactar de forma positiva no risco-país? Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos!

Conclusão: ainda é cedo para dizer, afinal, confiança é bom, mas confiança demais também pode atrapalhar e, no caso da economia, pode levar os agentes a tomarem decisões precipitadas. Então, muita calma nessa hora. Por enquanto, estamos passando por um momento de cautela, com eleições se aproximando, taxa de juros que voltou a subir aqui no Brasil e fluxo de capital reduzido por conta das dúvidas que envolvem o tema fiscal. O que irá acontecer daqui em diante vai depender muito da condução da política monetária/fiscal do país e de como isso será recebido pela população e empresários – que irão reavaliar se seguem confiantes ou não.

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