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Já faz algum tempo que só se fala em taxa de juros das economias centrais, mais especificamente dos EUA que, claro, é a maior potência mundial. Enquanto a maioria das economias emergentes iniciou o ciclo de corte de juros em meados de 2023, países desenvolvidos (ou economias centrais, como preferir) ainda estão apenas ensaiando o início desse movimento (ver gráfico 1 e 2). Lembrando que taxa de juros é um dos pilares fundamentais da política monetária de um país e tem um impacto significativo em diversos aspectos da economia global. E as elevadas taxas de juros nas economias centrais têm sido um debate constante à medida que a inflação subiu persistentemente em algumas regiões e os mercados financeiros se tornaram mais voláteis e avessos ao risco. Por conta disso, os bancos centrais estão monitorando de perto essas tendências e avaliando o momento adequado para ajustar suas políticas monetárias. Para algumas economias esse momento já chegou, para outras o cenário ainda é duvidoso.
Quando falamos de taxa de juros nos EUA, parece que o momento adequado está ficando cada vez mais distante. E isso está acontecendo por conta de dois principais motivos, que destacaremos abaixo:
1. A inflação americana parece não estar dando trégua. Os indicadores mais recentes divulgados nos EUA voltaram a surpreender de forma negativa. Tanto o PCE (Índice de Preços ao Consumo Pessoal), quanto o CPI (Inflação ao Consumidor) tiveram resultados acima do esperado e mostram uma inflação anual ainda acima da meta estabelecida, que é de 2,0%. Para se ter ideia, a inflação anual medida pelo CPI voltou a subir em fevereiro para 3,2% frente aos 3,1% observado em janeiro. Já o núcleo – que exclui os itens de alimentação e energia – permaneceu no patamar de 3,9% na comparação anual, ambos bastante acima da meta. O núcleo do PCE também segue elevado (ver gráfico 3).
2. Lembrando que o FED vem afirmando há algum tempo que não deve reduzir juros enquanto não houver confiança sobre trajetória sustentável da inflação em direção à meta de 2%.
3. A atividade econômica está mais forte. O PIB americano encerrou 2023 com crescimento de 2,5%, acima das estimativas do mercado e acelerando em relação ao crescimento observado em 2022. Os indicadores de mercado também seguem firmes e fortes, sinalizando um quadro de atividade econômica ainda bastante aquecido. Embora a taxa de desemprego esteja em nível elevado para padrões americanos (3,9%) e o indicador de vagas abertas na economia tenha desacelerado recentemente, ainda assim, estamos falando de um nível bem distante de épocas em que a economia estava em recessão. O mesmo vale para os indicadores de PMIs, que permanecem acima de 50 pontos – nível que sinaliza economia em expansão (ver gráficos 4 e 5).
Considerando a evolução mais recente dos indicadores mencionados acima, onde a inflação permanece pressionada e a atividade econômica em expansão, as projeções sobre o início do ciclo de corte de juros nos EUA vêm sendo revisadas semana após semana. A maioria dos agentes de mercado que começou o ano projetando até 7 cortes de 0,25 ponto porcentual ao longo de 2024, ajustou suas estimativas para apenas 3 reduções da mesma magnitude. De acordo com o monitor do FED, calculado pela investing.com, em janeiro deste ano a maioria das apostas (52,9%) se concentrava em cortes a partir de março. Na pesquisa mais recente, essa figura mudou e hoje as projeções são de que o primeiro corte de juros acontecerá a partir de junho (60%). Além disso, já há quem considere a possibilidade de que o Federal Reserve não faça nenhum corte em 2024. Mas muita calma nessa hora, ainda temos muito chão pela frente até o final deste ano (ou não... risos nervosos!).
O leitor deve estar se perguntando sobre qual a conexão dessa discussão toda acima com o comportamento do câmbio. E a resposta para aqueles que acompanham de forma mais assídua nossos conteúdos é a mesma de sempre. Enquanto a taxa de juros americana permanecer no nível atual, o fluxo de investimentos continuará sendo direcionado para os EUA. Embora as economias emergentes (Alô, Brasil!) tenham taxas de juros mais atrativas, a economia americana é vista como mais segura. E juros entre 5,00 e 5,25% de uma economia vista como segura valem mais do que taxa de juros em 10,75%a.a. de uma economia que ainda enfrenta muitos desafios, sobretudo, no campo fiscal. Portanto são poucos os argumentos que assegurem o ingresso de fluxo de dólares por aqui. E se não temos dólares (ou temos menos dólares), a cotação do câmbio sobe (ver gráfico6).
Conclusão: Diante desse cenário, a mediana do mercado, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, é de taxa de câmbio próxima de US$/R$5,0 até o final deste ano. Em nossa visão, a partir do momento que o FED iniciar o ciclo de queda dos juros por lá, teremos uma taxa de câmbio mais baixa por aqui. Embora ainda exista muita incerteza sobre outras frentes da economia brasileira, principalmente no âmbito político/fiscal, em linhas gerais temos uma economia mais atrativa, com inflação cedendo, juros em queda e crescimento surpreendendo positivamente a cada nova divulgação. Isso deve ser suficiente para melhorar nossa percepção de risco e contribuir, portanto, para menor pressão em nossa taxa de câmbio.
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