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Antes que o êxtase tome conta dos leitores, já antecipo que este não é texto de projeções, apenas um humilde palpite baseado em “tudo que está aí”. Dito isto, gostaria de deixar claro que acho que a taxa de câmbio está alta ou que o real está muito desvalorizado; ou seja, não “gosto” do patamar muito distante dos US$/R$ 4,00. Mas o que pode fazer o cenário atual mudar?
Mas como chegamos aqui? Durante o mês de agosto, quando tivemos a forte desvalorização da moeda, o real não foi sozinho; todos os países emergentes tiveram aumento em suas taxas de câmbio, sugerindo que o principal problema foi externo. De fato, houve uma escalada sem igual na Guerra Comercial entre EUA e China; Argentina mostrou sinais de retorno a um governo mais heterodoxo (palavra que, para economistas, significa um governo pouco amigo do sistema liberal que o mercado financeiro adora) e, mais recentemente, com um eventual Brexit sem acordo com a União Europeia. Esses motivos trouxeram um forte movimento de aversão ao risco, eliminando qualquer vestígio de fluxo de investimento para países emergentes.
Porém, o Brasil sofreu mais que todas as moedas (excluindo Argentina, é claro), uma vez que as noticias nacionais que chegaram aos ouvidos mundiais foram mais sobre o fraco posicionamento do governo perante o problema de queimadas da Amazônia, assim como comentários de gosto duvidoso de líderes importantes de Brasília, do que a boa evolução dentro do Congresso, como vimos entre junho-julho.
Dado esse cenário, olhando para frente, uma queda na taxa de câmbio depende de vermos as perspectivas do Brasil de fato melhorando e se recuperando de forma consistente (ou seja, confiança + decisão de investimentos). Acredito que muitos investidores estrangeiros não estão posicionados no Brasil (vide o quão negativo está o fluxo financeiro), e um gatilho para passar a tomar risco em posições locais seria a continuidade da agenda de reformas após a Previdência, além de sinais de crescimento consistente. Ou seja, precisamos ser uma boa história para contar, no meio do cenário nebuloso internacional.
Hoje temos uma questão crucial que são as contas fiscais. A reforma da Previdência foi um grande primeiro passo, mas não o suficiente. Investidores estão sedentos por notícias consistentemente boas para colocarem seus investimentos. Precisamos de muito mais reformas, que estão sendo discutidas, como a tributária, mas precisamos ver a sua evolução. Precisamos do desenrolar das privatizações, de holofotes sobre concessões e ações contínuas dos ministros em quem o mercado aposta: Paulo Guedes, da pasta da Economia, e Tarcísio de Freitas, da pasta da Infraestrutura.
Se conseguirmos essa combinação, temos uma forte chance de ver a taxa de câmbio para baixo dos US$/R$ 4,0 em pouco tempo — lembrem-se do quão rápido esses movimentos podem acontecer. Além disso, temos um Banco Central disposto a intervir no mercado: começou com uma venda de reservas de US$ 3,8 bilhões em agosto, e acelerou para US$ 11,6 bilhões, o que está sendo feito neste mês. Uma outra saída possível é a diminuição da taxa de juros nos EUA (que pode gerar interesse em países com taxas mais rentáveis) combinada à também queda de taxas de juros no Brasil (que pode sugerir ganho institucional, e aumentar confiança).
Eu, particularmente, acredito que migraremos, mesmo que de forma gradual, para um cenário de taxa de câmbio mais ameno, comparado ao patamar atual. Mas os riscos estão latentes, e precisamos nos voltar para o dever de casa de organizar nossa casa, nosso país e ser uma boa historinha para contar.
Mas o cenário lua-de-mel que vimos entre junho-julho passado acho que ficou para trás, é muito problema, é muito risco (em outras palavras não contaria com algo ao redor de US$/R$ 3,70 de novo; “gosto” mais de ao redor US$/R$ 3,9)... e se der ruim, ou continuar dando ruim, podemos chegar nos US$/R$4,30, mas não conto com isso. Ou seja, volta... mas há riscos, muitos riscos.
A summary of the main events of each day that may influence the exchange rate, all in less than 1 minute.
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